7.9.09

A futebolização da política

Uma das grandes maleitas do sistema democrático (que ainda assim continua a ser o melhor sistema de organização politico/social do mundo e arredores) é o fenómeno da futebolização dos partidos. Passo a explicar: o adepto de um clube de futebol tem uma ligação emotiva com a sua agremiação desportiva. A razão é um elemento ausente na equação adepto/clube, só isso explica que a relação seja para toda a vida e mais seis meses independentemente dos resultados, do mérito, dos corpos directivos ou dos meios disponíveis. O Benfica será sempre o melhor. Ponto final. Nada no futebol obedece à lógica e, por isso, é que a relação entre adepto e clube é tão umbilical e bonita.
Façamos agora o by pass para a política. Os partidos são os clubes da democracia. Certo? Errado. Nada mais errado. Os partidos não podem ser os clubes da democracia porque a democracia não é um jogo. Do seu correcto funcionamento depende o nosso bem estar, a nossa imperial ao fim da tarde ou as férias nas Berlengas. Do Benfica ser campeão não depende ninguém. O índice de fidelidade a um partido devia igualar a capacidade de ser sagaz de uma Paris Hilton ou a habilidade de práticas monogâmicas de Hugo Hefner.

A escolha de um partido deverá obedecer a uma lógica de identificação com pessoas, métodos e prioridades, tudo factores que são variáveis ao longo do tempo. Qualquer pessoa com dois dedos de testa saberá que os mais competentes, os mais inteligentes e os mais honestos da nossa sociedade não se concentrarão apenas num partido e sempre nesse partido. Que uns estarão sempre errados ou menos certos que outros. Tendo esta impossibilidade em mente é me dificil compreender a fidelidade cega a entidades politicas tão abrangentes e tão dadas à asneira como o são os partidos. Se este blog tivesse contraditório este era o momento em que as ideologias surgiriam e eu teria que articular um argumento sobre o tópico. Mas como não existe contraditório, tenho muitos afazeres exteriores à blogosfera e quero limitar-me ao cerne da questão que me trouxe aqui hoje não o irei desenvolver. Sendo assim, o cerne do que hoje vos queria transmitir prende-se com a coerência ou a falta dela. A futebolização dos partidos leva a que os adeptos - peço perdão, os militantes e simpatizantes - sejam intransigentes com acções/situações protagonizadas pelos seus opositores e sejam condescendentes ou até apoiantes fervorosos quando as mesmíssimas acções/situações são protagonizadas pelos seus camaradas.
Um exemplo: a senhora sexagenária que tanto tem falado de asfixia democrática e meios do estado ao serviço de um partido vai à Madeira e tem esta performance.

LRO