6.9.09

É apenas mais uma esplanada, mas...

Aquela que é considerada por muita gente como a melhor esplanada de Lisboa tem os dias contados: a câmara quer substituí-la por "um restaurante de muita qualidade".
No topo de um mercado desactivado situado na Calçada do Marquês de Tancos, nas proximidades da Rua da Madalena e da Baixa, O Terraço tem uma das melhores vistas de Lisboa. O casario e o Tejo estendem-se aos seus pés, para deleite de todos quantos visitam o local. O ambiente descontraído, com puffs, sofás e espreguiçadeiras, fazem o resto.
(...) Mas as obras para reconverter o edifício num silo automóvel e para nele instalar um elevador para facilitar o acesso ao Castelo de S. Jorge foram tardando, e O Terraço foi ganhando fama. Embora ainda não tenha data de arranque, este poderá ser o último Verão do bar. "Haverá 204 lugares de estacionamento, um supermercado no rés-do-chão e, no topo, um restaurante de muita qualidade", explica um dos administradores da Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa, Rogério Pacheco.

Público . 05.09.2009

Aqui está uma noticia do Público de hoje que vem ilustrar as tais prioridades de que tenho falado. Para quem não percebeu a expressão usada por Rogério Pacheco - restaurante de muita qualidade - esclareço que é uma forma airosa de dizer restaurante de luxo, ou seja, uma casa que serve refeições acima de 40€, gratinados com cereja tailandesa e carta de vinhos raros. O que é que eu tenho contra restaurantes com gratinados com cereja tailandesa, carta de vinhos raros e refeições acima dos 40€? Nada, absolutamente nada. O que é que eu penso de um restaurante de muita qualidade no topo do Mercado do Chão do Loureiro? Penso que é um erro.

É notório para quem leu o Plano de Requalificação da Baixa - e eu estou incluido naquela meia dúzia de maluquinhos que leu - que a aposta de quem o produziu passa por instaurar maior capacidade de estacionamento na dita área e criar uma serie de hóteis (sempre de muita qualidade) na maior parte dos edificios nobres desocupados ou em vias de. A intervenção no Mercado do Chão do Loureiro é uma peça desta estratégia elitista.
Quem frequenta a esplanada mencionada na noticia - e eu sou frequentador assiduo - sabe que é uma mais valia para a cidade e apresenta algumas caracteristicas únicas - leia-se somatório vista, dimensão e conforto - na área da Baixa/Castelo, sendo um espaço socialmente eclético frequentado por centenas de pessoas diariamente. Perante este cenário o que é que os senhores do plano sugerem? Um restaurante de muita qualidade que irá servir três ou quatro dezenas de refeições por noite a senhores e senhoras que já têm à sua disposição uma oferta numerosa de estabelecimentos idênticos na área da Baixa/Castelo/Chiado. Retira-se, portanto, um equipamento particular que serve a muitos para o substituir por mais um restaurante que serve a poucos. Porquê? Não sei, mas pergunto-me: é esta desejada Lisboa elitista e chic que vai resgatar os habitantes perdidos e intensificar a dinâmica urbana? Não creio.

LRO