2.12.08

Jerónimo


Alexander Soljenitsin 1918 - 2008

Confesso que, sendo eu catalogado pelos meus pares e quiçá pelos meus ímpares como sendo de esquerda, o Partido Comunista é o agrupamento político que me faz mais comichão. Uma leve urticária no lóbulo frontal provocada por uma série de questões que tomei a liberdade de organizar em pontos devidamente numerados de 1 a 3. Vamos então aos pontos:

1. Aquela coisa de não condenarem veementemente toda e qualquer ditadura, afogando-se em retórica oca para justificar o injustificável, chamando porcos fascistas a uns e camaradas a outros faz-me confusão. Um partido que não condena sem reservas regimes ditatoriais como a Coreia do Norte, Cuba ou China deixa-me de pé, perna e cabeça atrás. E não me venham com a conversa do ângulo de análise, da assistência médica em Cuba e o grau de instrução na China. Aquilo são regimes que prendem, matam e ostracizam por delitos de opinião. Regimes que esmagam os povos que juram servir em nome de um bem comum, abstracto e vazio para a maioria, concreto e efectivo para as cúpulas. Numa frase: Estados que condicionam a LIBERDADE. E isto não é negociável, não é admissível nem uma nota de rodapé num partido democrático.

2. Outra coisa que me mexe com a mioleira é a unânimidade - como se provou mais uma vez este fim de semana - que asfixia as vozes críticas e o pensamento livre no interior deste agrupamento político.

3. Por último, o revisionismo histórico promovido pelas elites pensantes do partido, atribuindo à actuação de forças exteriores - os sempre disponíveis porcos fascistas e capitalismo selvagem - as principais causas da falência do modelo comunista, parece-me simplesmente estúpido pela supressão da necessária reflexão séria e profunda sobre a decadência da utopia comunista que este enfiar a cabeça na areia acarreta. E mais grave, esta customização da memória configura o primeiro passo para a repetição dos horrores passados.

Findo os pontos que revelam a origem da minha comichão, devo alertar o leitor que o acima escrito pode ser fruto de uma absoluta falta de experiência em perceber os mecanismos da real politik e de me encontrar de momento saturado de lixo mediático. Diria mesmo que o post configura uma análise naif tolhida por esse amor incompreensível e incondicional à LIBERDADE. À quê? À liberdade, Jerónimo.

LRO