29.11.08

Devia ser consensual de tão evidente

Os anos 80 foram uma década para esquecer. Isto é um facto e não está aberto a discussão. Foram dez anos onde a humanidade se vestiu de adolescente e mergulhou de cabeça no mau gosto, na pop e nas pastilhas elásticas cor-de-rosa. Os edifícios voltaram a ter frontões e todos usavam alegremente enchumaços e popa de 20 centímetros.

Esta minha leitura da herança cultural dos 80's, que devia ser consensual de tão evidente, tem gerado horas e horas de acesas discussões sobre os méritos e desméritos da citada década. Os meus interlocutores tentam, em vão, citar inúmeros exemplos de coisas boas, quando é por demais óbvio que, até se me aborrece ter de o dizer, tudo o que de bom se passou nesses dez anos ou foram deslizamentos da década de 70 ou antecipações dos anos 90.

Uma das últimas trocas de argumentos deu origem a esta lista enviada por email sobre as coisas boas dos oitenta. Vamos então dissecar a lista em busca de alguma pepita que contrarie a minha opinião, sabendo desde já que tal é impossível.
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CINEMA

1980 Star Wars: The Empire Strikes Back
Isto é um produto típico da segunda metade dos anos 70 quando a ficção cientifica se tornou um género maior do cinema. Recordo que a saga Star Wars teve o seu ínicio em 1977.
1981 Indiana Jones an the Raiders of the Lost Ark
Outra triologia que também começou nos anos 70.
1982 E.T. The Extra Terrestrial
Este filme muito sobrevalorizado não passa de um sapo cabeçudo que quer voltar para casa e manipula a afectividade de um pobre miúdo até o conseguir.
1983 Star Wars: Return of the Jedi
Ver resposta ao primeiro Star Wars: The Empire Strikes Back
1984 The Karate Kid
Este filme é uma grande merda e é realmente um exemplo da "qualidade" dos 80's.
1985 Back to the Future
Um snack cinematográfico para adolescentes.
1986 Platoon
O Apocalipse Now dá 10-0 a este filme. E quando é que foi feito? Pois é 1979, ali mesmo antes da década maldita começar.
1987 Good Morning, Vietnam
Este é o filme onde o Robin Williams descobriu que o público gostava de o ver a gritar e a fazer caretas e nunca mais parou...
1987 RobotCop
Ver resposta ao Karate Kid
1988 Rain Man
Ver o Dustin Hofman a fazer de maluquinho e o Tom Cruise de irmão sofredor não é propriamente o meu entendimento de grande filme, ainda que a Academia tenha pensado de maneira diferente e tenha cravado o filme de óscares.
1989 Batman
Um caso típico de antecipação. A série é produto dos 90.
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1980 David Bowie, Ashes to Ashes
O Bowie é 70's por todos os poros. Só continuou a trabalhar depois disso porque tem contas para pagar como todos.
1981 John Lennon, Imagine
Uma cançoneta que parece saída do neurocrâneo de um jovem de quatorze anos com problemas afectivos e escolares.
1982 Michael Jackson, Thriller
Este é um disco voador que cai de paráquedas na cena cultural dos 80's. É uma obra justificada pelo alinhamento de Saturno com Júpiter com a lua em 4º minguante. Intemporal.
1983 Madonna, Madonna (1º album em estúdio)
Quem é a Madonna?
1984 António Variações, Canção do Engate
Este senhor é um deslizamento dos 70's provocado pelo nosso atraso crónico em relação às tendências criativas globais.
1985 AHA, Take on Me
Isto é mau.
1986 Peter Gabriel, Sledgehammer
Foi melhor antes e voltou a ser melhor depois, ainda que não tão bom como o foi antes.
1987 U2, The Joshua Tree
E já sei que os fãs, aqueles mesmos fãs que têm todos os albuns, choram nos concertos e engatam, fodem e rompem ao som de U2, me vão excomungar até à 5a geração, mas a década de 90 com o seminal Achtung Baby (1991), Zooropa (1993) e a Zoo TV Tour (1991-1993) são o melhor período criativo da banda e aquele que lhes garante o cantinho no Hall of Fame.
1988 Bobby McFerrin, Don't Worry Be Happy
Uns assobios e um não te preocupes sê feliz não me parece melodia e mensagem suficiente para fazer desta uma música memorável ou sequer mencionável.
1989 Alice Cooper, Poison
Este tive que ir ver ao youtube pois já nem me lembrava do bicho. E depois de ver o vídeo percebi porquê: é mau!


Penso, mais uma vez, ter provado sem sombra de dúvida a insignificância cultural da década de oitenta. Diria mesmo que, na senda do que foi defendido por uma grande estadista sexagenária, não me escandalizava com seis meses mais musculados e sem liberdade de expressão dedicados a erradicar todas as excrescências dos anos 80, nomeadamente, livros, música e cinema. Fogueira com essas influências nocivas que pairam sobre as nossas criancinhas.
Quem queira exercer o contraditório do que acima ficou escrito, pode sempre chibatar-me na caixa de comentários.

LRO