3.9.08

it takes two to tango

concordo com LRO quando afirma que os artistas usam as reacções da hierarquia católica para capitalizarem em visibilidade e proveito – enganam-se os que esperam polémica neste blog ou discussões acaloradas e violentas entre os participantes – esclareço já que eu e LRO quase nunca andamos á pancada – embora seja minha opinião que devíamos faze-lo com maior frequência

onde discordo é na suposta ingenuidade – quando estas noticias surgem a igreja também obtém visibilidade.
a igreja, tal como tantas outras instituições tem a necessidade de comunicar – tal como as mais prosaicas marcas recorre a símbolos, signos, tenta associar significado a objectos – a diferença é que tem nomes como iconografia, liturgia e homilia

não penso que qualquer marca visse utilizado um símbolo seu sem intervir – porque é uma oportunidade de promoção – porque é mais que tudo uma prova de propriedade, de reconhecimento – a grande oportunidade da igreja católica actual não está nas congregações – hoje é tão mais relevante quanto mais nos lembrar que faz parte da nossa linguagem – os seus códigos são absolutamente reconhecidos – ainda agimos no seu contexto.

o que acho triste na perspectiva religiosa face à arte, não é a sua falta de apreço por linguagens e expressões modernas e mundanas – é a sua incapacidade de produzir objectos artísticos de elevada qualidade.
a igreja, estou a falar das igrejas ocidentais que conheço, foram durante séculos a vanguarda de expressão artística – não apenas na capacidade da encomenda, de contratar os melhores artistas – foram, e por isso lhe estou reconhecido, os que melhor reconheceram a capacidade da arte de produzir experiências transcendentes – há uma enorme inteligência em associar um tipo de comunicação predominantemente emocional, como a arte quase sempre é, com uma mensagem à qual se adere por vontade, ou desejo, ou fé.

em verdade vos digo – que me falem 100 beatas à porta dos centros comercias munidas de panfletos que parecem promoções do Lidl – que me façam ver 50 horas de um anarcolizante pároco em explicações doutrinais – e eu nem nada – é que nem percebo o que estão a fazer.

agora vejam – há uns quinhetos anos Gil Vicente escreveu isto

Vilancete

Adorai, montanhas,
o Deus das alturas,
também das verduras.

Adorai, desertos
e serras floridas,
o Deus dos secretos,
o Senhor das vidas.
Ribeiras crescidas,
louvai nas alturas
Deus das criaturas

Louvai, arvoredos
de fruto prezado,
digam os penedos:
Deus seja louvado!
E louve meu gado,
nestas verduras,
o Deus das alturas.


Ora, isto eu entendo – e quem andando por cá não souber o que é a adoração – bem, se não sabem não vale muito a pena andar por cá

*nota de autor – anarcolizante, tanto quanto é do meu conhecimento não existe – melhor, não existia ainda – mas como narcótico e narcolepsia existem – eu pensei que passava – estou na duvida se “anarcolizante” se “anarcolisante” - como a tecla “z” está muito menos gasta decidi assim
Claro que podia ter posto suporífero, mas não tenho a certeza como se escreve.

O autor pede desculpa por uma entrada tão longa, e por ao se desculpar de ser tão longo tornar ainda mais longo o texto.
FRJ