10.9.08

Perguntas por cima do ombro

Concordo em grande parte com a análise de FRJ, nomeadamente no trecho em que refere que devíamos andar à pancada mais vezes. Mas a lucidez da sua análise e a força dos seus argumentos obriga-me a adiar por mais umas entradas o tão esperado confronto. Mas não se desiluda o leitor, pois este estaminé, ainda imberbe, chegará inevitavelmente à fase da pancada de criar bicho. E se não houver nenhum desacordo de monta no horizonte, obviamente não hesitaremos em ensaiar uma qualquer quezília artificial para deleite de todos aqueles que insistem em nos visitar.

No entanto, o leitor mais atento reparou que usei a expressão em grande parte para quantificar a minha concordância ao post anterior, o que significa que uma réstia do texto merece a minha discordância. Quando FRJ diz que: o que acho triste na perspectiva religiosa (...) é a sua incapacidade de produzir objectos artísticos de elevada qualidade - penso também que a instituições religiosas, deixaram de ser o motor máximo da criatividade humana, onde os melhores se reuniam para traduzir a transcendência em luz, cor, proporção, matéria... no entanto, considero que ainda há exemplos de excelência na mediocridade geral. Se o nível médio é incomparávelmente mais baixo, tal deve-se na minha óptica à expansão exponencial de locais de culto que obrigam ao recrutamento de mão-de-obra menos qualificada. E se, pelo interior esquecido e ostracizado ou pelos fervilhantes subúrbios urbanos, podemos encontrar todo um catálogo de horrores patrocinados pelo fervor religioso, não deixa de ser menos verdade que essas mesmas instituições também recrutam alguns dos nomes mais relevantes - Peter Zumthor, Álvaro Siza, Tadao Andoo são três exemplos no campo da arquitectura mas outros podiam ser dados na escultura, pintura...

A Igreja continua a produzir objectos artísticos de elevada qualidade, a diferença é que agora estão devidamente acompanhados de carradas de porcaria - confesso que onde se lê porcaria hesitei na introdução do vocábulo merda, no entanto, reparo que ao 15º post este blog ainda não tem qualquer palavrão e não me parece por bem introduzir merda sem avisar que esta publicação online não tem limite na linguagem e considera o uso de palavras repudiadas socialmente como um recurso estilístico válido e de grande utilidade comunicativa, escrito isto - onde se lê carradas de porcaria leia-se carradas de merda.

Merda é uma asneira? - perguntam-me por cima do ombro.

LRO