Quem quis afinal um novo Museu Nacional dos Coches, quando ele está no ambiente adequado, é o museu português mais reputado e com mais visitantes e “o projecto de novo museu não afecta somente o Museu Nacional dos Coches, mas antes constitui um verdadeiro ‘terramoto’ de efeito ricochete na museologia nacional” (como se está a ver no respeitante ao Museu de Arqueologia), termos constantes de uma petição (www.gopetition.com/petitions/salvem-o-museu-dos-coches.html) de que os primeiros signatários são Raquel Henriques da Silva e Nuno Teotónio Pereira? A resposta está na evidência dos factos: a responsabilidade incube à Sociedade Frente Tejo, da esfera do ministério da Economia, e, como na altura assinalei, o contrato com Mendes da Rocha foi assinado por Manuel Pinho, dispensando Pinto Ribeiro.
Sabemos do gosto pessoal de Pinho pela fotografia e como isso o tem levado a uma “política de gosto”, que foi patente nas exposições “Candida Höfer em Portugal” (incluindo esse tão notório edifício que é o Palácio da Horta-Seca, sede do seu ministério) e “A Terra e a Gente” de Vic Muniz, bem como da promiscuidade instalada entre o próprio, instituições públicas ou da área estatal e um banco privado que apoia a fotografia, o Bes. Sabemos também que estranhamente foi o ministério da Economia a apoiar a presença de artistas portugueses na Photo España (dos quais, haverá a notar, “sairia” a dupla escolhida directamente pelo Estado para a representação portuguesa na próxima Bienal de Veneza, João Maria Gusmão e Pedro Paiva). Nomeou ele recentemente a empreendedora e gestora Guta Moura Guedes para conceber o “design estratégico” do próximo Allgarve (uma ridícula iniciativa da sua lavra), e ser responsável pela parte de arte contemporânea – a arte contemporânea na esfera do ministério da Economia?!
Augusto M. Seabra . Síndroma dos Coches
Arte Capital
E com este excerto abro a minha reflexão sobre o Museu dos Coches. Muito se tem escrito na blogosfera e nos jornais sobre a adequação do projecto ao local, a sua pertinência no âmbito do parque de museus nacionais, etc... Eu, sempre lento a entrar nestas questões complexas, decidi começar pelo príncipio e esgravatar a terra em busca da necessidade deste novo museu. Deste esgravatar emergiu a persona por detrás da obra e a constatação que a necessidade desta obra terá mais origem na esfera do ego e do gosto pessoal de um certo ministro que da real necessidade de renovação da instituição museulógica em causa. Temos portanto que se as pulsões de Manuel Pinho apontassem noutra direcção poderíamos estar hoje a discutir o Museu do Automóvel ou da Faiança Portuguesa. Tudo demasiado casuístico e dispendioso num país com tão parcos recursos.
(continua - ou não...)
LRO