De vez em quando creio ser importante libertar o Eduardo Cintra Torres que há em mim e praticar um pouco de crítica televisiva. Serve esta actividade não para elevar a qualidade média da programação televisiva - função que deve estar a cargo das domésticas, dos desempregados e dos reformados como maiores consumidores - mas para tentar garantir que os poucos programas que me possam interessar continuem no ar e, se possível, mas isto já será pedir muito, irem para o ar naquela rara janela de oportunidade em que a minha existência faz confluir num vortex espacio-temporal: um sofá, 40 minutos para queimar e um televisor posicionado a 220 centímetros.
Sendo assim, declaro que os únicos programa com chancela nacional dignos de atenção neste momento na paisagem televisiva são: O Programa do Aleixo e os Contemporâneos. Os Gato Fedorento, que há uns meses atrás entrariam de caras neste lote, acusaram na última temporada uma enorme falta de frescura, fruto talvez da dispersão dos seus elementos em actividades paralelas na rádio, nos jornais e na internet. E eu, que na prática da crítica televisiva não tenho contemplações, zás! borda fora com eles que com o humor não se brinca.
Quanto às duas referências mencionadas: O Programa do Bruno Aleixo é a mais original proposta do último ano. A voz do Bruno do Aleixo e as suas versões ao piano são imperdíveis. Diria que é um típico caso de primeiro estranha-se e depois entranha-se; Os Contemporâneos souberam ir afinando o seu programa e agora estão numa consistente velocidade cruzeiro. Discutível apenas as entrevistas a algumas personagens com vísiveis dificuldades mentais que são mais cruéis que engraçadas. No entanto, estes senhores decidiram, ou decidiram por eles, parar até Abril, preconizando uma situação que se pode designar de grande bosta.
Agora que já libertei na plenitude o Eduardo Cintra Torres que há em mim, espero ter deixado claro a quem manda que O Programa do Aleixo e os Contemporâneos é para manter. E só para esclarecer da importância de seguirem as minhas recomendações, sublinho que sou amigo de um amigo do primo do Sócrates que está na China.
Ah! E os programas são para ser emitidos ao domingo à noite, que é quando os vortexs (tentativa às cegas de plural de vortex) espacio-temporais acontecem com mais frequência.
LRO